Consumo global deve mudar para que o planeta sobreviva. Interesses econômicos não devem se sobrepor à sustentabilidade

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A vida na Terra está ameaçada. A necessidade de produzir riqueza e promover o crescimento econômico se sobrepõe aos cuidados com a sustentabilidade dos recursos naturais. A lama derramada em Brumadinho é apenas um exemplo, entre milhões, do que o ser humano está disposto a colocar em risco em troca do vil metal. Poluir rios, desmatar florestas, emitir gases de efeito estufa e usar fontes de energia que agridem o planeta de forma irreversível são práticas tão comuns que não se presta atenção no quanto são prejudiciais à própria vida.

O Brasil é campeão em desmatamento e está entre os cinco maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE). O país também tem os maiores mananciais de água doce do mundo; portanto, os desafios para assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais são enormes. Para apontar alguns deles e também mostrar iniciativas que estão dando certo para mitigar os problemas,​​ será lançada​​ uma série de matérias que vai abordar a importância da preservação dos quatro elementos — água, ar, terra e fogo — para a garantir a vida no planeta e o crescimento econômico sustentável.​​ Acompanhe aqui.

Ciclo vicioso

Vinícius Picanço, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper, observa que os quatro elementos são interligados e todos acabam no ar. “A emissão de gases influencia o padrão de chuvas e provoca mudanças climáticas. Isso vai impactar na terra, na produção de alimentos, e também na geração de energia (fogo) limpa, porque, se não chover, é preciso usar termelétricas — que emitem mais gases”, ressalta.

É um ciclo ainda vicioso, mas que pode se tornar virtuoso, porque existem tecnologias para mitigar os problemas, diz Picanço. “Isso é o que mais me dói. Tem como evitar, mas não há planejamento de longo prazo no Brasil. Aqui, a política é apagar incêndio. Reage quando sente na pele. Fazem-se planos de governo, mas poucas políticas de Estado.”​​ Quando se fala do planeta, os efeitos não ocorrerão amanhã, mas daqui a 10, 20 anos. “Porém, de forma acumulada”, emenda.

O impacto ambiental dos padrões de consumo do brasileiro, rico em proteína animal, afeta o mundo todo. A indústria da carne é uma das principais responsáveis pelo aquecimento global, porque a fermentação entérica, processo digestivo dos herbívoros, emite metano (CH4), um gás mais prejudicial para a camada de ozônio do que o dióxido de carbono (CO2). A degradação de alimentos, seja na fase de produção, seja no desperdício e nos lixões, produz óxido nitroso (N2O), ainda mais potente na destruição do ozônio.

Para Denise Conselheiro, gerente de Educação do Instituto Akatu, ONG que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, é importante consumir com mais racionalidade e reduzir os impactos ambientais. Informação é essencial nesse processo, porque o consumidor precisa saber o que está envolvido na produção, no uso e no descarte. “Precisamos ter uma sociedade diferente daquela que temos hoje. Por isso, fazemos um trabalho de educação para a sustentabilidade, desde resíduos, consumo de água, energia, alimentação, com foco em crianças e jovens”, conta.

Para garantir a vida no planeta, é preciso repensar hábitos de consumo, desde o lixo que poderia ser aproveitado, até a real necessidade de algumas coisas. “O canudinho, por exemplo, para pessoas enfermas talvez se justifique. Mas não precisa dele para mexer uma caipirinha. É uma coisa que demanda mão de obra, energia, água, plástico e que se usa por segundos”, assinala. Uma lei distrital sancionada recentemente proíbe o uso de canudos e copos de plástico na capital do país.

A especialista alerta que os padrões de consumo aumentam a sobrecarga do planeta. “Em 2000, o dia da sobrecarga da terra foi 15 de outubro. Este ano, será 1° de agosto. Passamos quase meio ano sobrecarregando o sistema”, destaca. Por isso, a necessidade de uma transição rápida. “Há pouco tempo de reação. No Brasil, o uso da terra é o principal responsável pelo aquecimento global. O padrão de consumo é o segundo. Para produzir um quilo de carne, são usados 15 mil litros de água”, explica. Apenas 10% do consumo de água são de​​ uso direto e doméstico. Os 90% restantes estão nas coisas que se consome.

Empresas

Além do consumo, a mudança também precisa partir dos negócios, explica o professor Celso Lemme, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O papel das empresas numa economia capitalista é ser o braço econômico dos objetivos da sociedade. Se preciso de energia, alguém vai lá e produz. Existe uma pressão por resultados a curto prazo de investidores e da sociedade civil”, afirma.

Uma agenda para reverter a sequências de tragédias, como a de Brumadinho, seria mudar a visão de horizonte do investimento. Lemme explica que o capital industrial e o financeiro são fundamentais ao desenvolvimento. “Infelizmente, não consideramos o capital natural, que também é essencial. Esses desastres decorrem de uma visão míope, que não enxerga o capital humano e ambiental, sem os quais não há os demais”, sublinha. A mudança, ainda que lentamente, está ocorrendo, diz. Hoje, existe uma análise financeira que considera a gestão de recursos naturais das empresas. A sigla ASG (ambiental, social e governança) começa a despontar nos balanços.

Lemme diz que os conselhos de administração precisam ter stakeholders de outras áreas, para que a empresa considere a visão de diversos atores. “A diretoria tem que levar propostas, mas o conselho tem que ver com os olhos de comunidades vizinhas, do meio ambiente, para avaliar o futuro da empresa”, ressalta.

Demandas

A melhor forma de ter mais lucros por muitos anos é garantir a sustentabilidade para atender as demandas da sociedade. “Os executivos pensam se vão dar ênfase às questões financeiras ou ambientais e sociais. Mas não é ‘ou’ é ‘e’. A ênfase tem que ser em todos os aspectos, combinando os três tipos de capital: ambiental, social e financeiro. Eles não estão um contra os outros. Estão juntos para articular o desenvolvimento sustentável”, afirma.

Nem todos os especialistas acreditam na capacidade de produzir riquezas e preservar o meio ambiente. O professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense Sergio Ricardo Barros afirma que não há possibilidade de crescimento econômico com sustentabilidade. “No contexto do capitalismo atual, isso é uma utopia. O desenvolvimentismo trabalha com exploração maciça dos recursos naturais”, argumenta.

Para Barros, o modelo não se sustenta. “Para garantir sustentabilidade, teriamos de mudar tudo o que conhecemos. Já rompemos a resiliência planetária, no sentido de tempo de recuperação para que se possa ter de novo uma economia realmente sustentável”, afirma. O professor diz que a visão centro-periferia resiste há séculos. “Parece que os países periféricos nunca vão alcançar a sustentabilidade por serem fornecedores de recursos naturais para ​​ o primeiro mundo”, destaca.

Segundo Barros, os países que estão mais preocupados em gerar riqueza por meio de formas não produtivas e sustentáveis empurram para os países periféricos, como o Brasil, o ônus de destruir seu meio ambiente por intermédio da produção exploratória. “Isso nunca mudou. Como mudar com uma periferia enorme? Como dizer que tem que ser sustentável, se numa favela não tem nem coleta de lixo?”, indaga.

Poluição do ar

Por receber um bombardeio de emissões Gases de Efeito Estufa (GEE), o ar perde qualidade dia após dia. Além da queima de combustíveis fósseis, a destruição de florestas deixa a humanidade em situação vulnerável diante das mudanças climáticas. Isso porque as árvores garantem a absorção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, um dos responsáveis pelo aquecimento global.​​ 

A poluição do ar é uma realidade urbana, explica Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil. “O país já esteve avançado nesta área. Hoje, a legislação de qualidade do ar é de 1980 e precisa ser resgatada. Além disso, há uma deficiência grande no monitoramento. Mesmo que tenha lei, não tem fiscalização”, alerta.​​ 

São Paulo, com o ar mais comprometido do país, tem o melhor modelo de monitoramento e mesmo assim não mede todos os poluentes. “Temos políticas de controle da poluição veicular, industrial e existem normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), responsável por regulamentar”, diz. Em São Paulo, por conta da poluição do ar, as pessoas têm expectativa de vida de três a quatro anos menor do que no resto do país, revela Rachel. A poluição do ar tem conexão com a mudança climática e o aquecimento global, por meio da queima de gasolina e diesel, que emite GEE.​​ 

Para Guarany Osório, coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), o maior problema está no desmatamento, que elimina a captura do dióxido de carbono, mas setores como a indústria, a energia e a agropecuária são relevantes emissores de GEE. “O Brasil tem compromissos internacionais de redução de emissão para depois de 2020, essa agenda terá de ser discutida agora”, diz.​​ 

O especialista explica que o mundo está cobrando eficiência ambiental. A demanda é maior por produtos de baixa emissão de carbono. “Para quem exporta, é importante olhar para sua cadeia, ver quanto está emitindo GEE. A regulação tem que entrar para fazer o comércio de carbono acontecer”, ​​ defende.

Fabiana Alves, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, lembra que, no Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal e a reduzir as emissões. “Infelizmente, em 2018, houve um aumento recorde do desmatamento, de 13,7%, em relação ao ano anterior. Isso significa que pouco tem sido feito”, destaca.​​ 

Quanto a outros setores, Fabiana afirma que as emissões totais do país aumentaram 32% de 1990 a 2016. “De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) da ONU (Organização das Nações Unidas), para que não haja um colapso global, devemos manter o aquecimento da temperatura global abaixo de 2 graus celsius. Isso significa que os países devem parar de emitir GEE e, além disso, devem sequestrar carbono, caminho que não está sendo perseguido pelo Brasil como mostram os números”, critica.

Marcelo Augusto Boechat Morandi, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente, explica, contudo, que, no que diz respeito à mitigação de emissões, o Brasil conta com um conjunto de iniciativas e tecnologias. O Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura) já mitigou entre 100 milhões e 154 milhões de tonelada CO2 equivalente entre 2010 a 2018. “Isso indica que as metas estão sendo cumpridas”, pontua.

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Fonte: Correio Braziliense

 

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