Nascido em Pirenópolis, Goiás, antes de ingressar na vida pública Nivaldo Melo (foto) trabalhou nas empresas da família no ramo de supermercados, setor no qual construiu uma forte relação com a comunidade local, o que contribuiu significativamente para sua popularidade e entrada na política. A partir daí, sua trajetória teve início em 2000, quando foi eleito vice-prefeito de Pirenópolis, cargo que ocupou até 2004. Em 2008, foi eleito prefeito pela primeira vez, sendo reeleito em 2012 para um segundo mandato consecutivo. Após um intervalo fora da administração municipal, retornou à prefeitura ao vencer as eleições de 2020, com a maior votação da história da cidade até então, somando 8 mil e 900 votos. Em 2024, Nivaldo Melo foi novamente reeleito para mais um mandato, consolidando-se como uma das lideranças políticas mais influentes de Pirenópolis.
Pirenópolis ganhou destaque nacional como destino turístico e cultural. O que mais o orgulha em ver a cidade ocupando esse espaço e qual papel o senhor acredita ter desempenhado nisso?
Desde o primeiro dia à frente da administração, assumi o compromisso de oferecer à população de Pirenópolis não apenas serviços, mas um atendimento digno, humanizado e de qualidade – especialmente na saúde e na educação, que considero pilares de qualquer gestão responsável. Desde cedo, percebi que não bastava resolver problemas pontuais; era preciso planejar ações capazes de transformar, a médio e longo prazo, a vida das pessoas. Ao mesmo tempo, sempre mantive um olhar atento para a nossa maior riqueza: a cultura. Pirenópolis carrega um patrimônio imensurável que vem de séculos. No passado, já tivemos cinema, teatro e um calendário cultural vibrante. Fortalecer nossa identidade foi e continua sendo parte importante do meu trabalho, porque acredito que desenvolvimento econômico e preservação cultural devem caminhar juntos.
Ao longo de sua trajetória como prefeito, quais foram as conquistas que considera mais simbólicas para a população e que marcam sua passagem pelo cargo?
Minha primeira grande conquista, que carrego com muito orgulho, foi ter rompido um paradigma histórico: vir de uma família sem qualquer tradição política e, ainda assim, ser eleito prefeito de Pirenópolis. Isso foi simbólico não apenas para mim, mas para toda a cidade. Representou uma mudança no perfil de quem podia chegar ao poder. Até então, eram quase sempre as mesmas famílias e grupos que dominavam o cenário político. Minha eleição provou que qualquer cidadão, com seriedade e compromisso, pode conquistar a confiança popular. E mais do que isso, abriu portas para que outras pessoas, sem vínculos com a elite ou com núcleos políticos tradicionais, pudessem sonhar e disputar cargos públicos.
Em suas gestões entre 2009–2016 e novamente a partir de 2021, o senhor construiu uma trajetória marcada por altos índices de aprovação. Qual foi o núcleo de sua liderança que se manteve constante e o que evoluiu entre os diferentes mandatos?
No meu primeiro mandato, estabeleci uma postura clara: a eleição termina no dia em que as urnas se fecham. A partir dali, todos são cidadãos da mesma cidade, com igual direito ao respeito e à atenção da administração. Não importava religião, classe social, cor ou orientação sexual – o foco era o bem-estar de todos. Montei uma equipe técnica, comprometida e unida pelo objetivo de melhorar Pirenópolis. Quando reassumi em 2021, o cenário era muito mais desafiador. Estávamos no auge da pandemia de Covid-19. O momento exigia serenidade, planejamento e decisões rápidas. Nosso objetivo número um foi preservar vidas. Começamos a vacinação pelos idosos da Aldeia da Paz e do Lar São Vicente de Paula, seguindo o calendário do Ministério da Saúde até vacinar toda a população. Mas a pandemia não trouxe apenas a crise sanitária: ela paralisou empresas, fechou comércios e aumentou o desemprego. Por isso, trabalhamos paralelamente para reativar a economia local e criar condições para a retomada de empregos. Esse novo mandato, que coincide com os 300 anos de Pirenópolis, carrega um peso histórico e uma responsabilidade ainda maior de continuar sempre melhorando e crescendo.
O Plano Municipal de Turismo 2022–2027, elaborado com o Sebrae e o Lab Turismo, visa tornar Pirenópolis referência em gestão sustentável. Quais ações concretas desse plano serão percebidas já nos próximos dois anos?
Atualmente, desenvolvemos parcerias estratégicas, como com o Sebrae, que atua conosco em educação, turismo e empreendedorismo. O objetivo é claro: qualificar nossa mão de obra, fomentar negócios e fortalecer a economia local. Priorizamos também o novo Plano Diretor, que é a base para um crescimento ordenado e sustentável. Houve resistência de alguns que não compreendem a importância desse instrumento, mas seguimos firmes, contratamos à época a mesma equipe técnica que elaborou o plano anterior para dar continuidade e aperfeiçoar o trabalho. Na área ambiental, realizamos uma mudança significativa: encerramos o antigo aterro sanitário e hoje tratamos 100% do lixo recolhido. Criamos a Cata Piri, nossa coleta seletiva sustentável, que trará benefícios ambientais e econômicos por décadas.
O reconhecimento da Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil ocorreu em 2010 sob sua gestão. Que impacto essa conquista trouxe para a política cultural e para o turismo local?
A relação com nossos grupos culturais sempre foi de diálogo aberto e de valorização. Criamos conselhos e fortalecemos redes de apoio para garantir que tradições centenárias fossem preservadas. A Festa do Divino e as Cavalhadas, símbolos da nossa identidade, alcançaram reconhecimento como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Esse reconhecimento não foi por acaso: foi resultado de um trabalho contínuo de salvaguarda e valorização, que as mantêm vivas de geração em geração. Nosso próximo passo é buscar o reconhecimento dessas manifestações como patrimônio imaterial mundial pela Unesco, pois o valor cultural que representam transcende fronteiras.

Pirenópolis vive fins de semana lotados e dias úteis mais tranquilos. Que estratégias a prefeitura está adotando para equilibrar esse fluxo e beneficiar o comércio durante toda a semana?
A indústria do turismo é uma das engrenagens da nossa economia. Trabalhamos para que ele funcione sete dias por semana. Hoje, já temos o turismo cultural e de lazer consolidado nos fins de semana e feriados. Nosso desafio é atrair eventos durante a semana, como congressos e encontros que tragam mil, duas mil pessoas a cada evento para a cidade. Isso aquece o comércio, movimenta a rede hoteleira e cria novas oportunidades para os moradores.
O boom imobiliário trouxe investimentos, mas também preocupações urbanísticas. Como a prefeitura avalia e regulamenta empreendimentos de alto padrão, garantindo contrapartidas e preservando o perfil da cidade?
O novo Plano Diretor é peça-chave para esse desenvolvimento. Ele garante que possamos crescer respeitando o patrimônio histórico, a cultura, a natureza e a beleza que fazem de Pirenópolis um lugar único. Sem ordenamento, o crescimento se torna um risco; com planejamento, ele se transforma em oportunidade.
O centro histórico, tombado pelo IPHAN, exige cuidado constante. Quais medidas sua gestão está implementando para restaurar fachadas, evitar reformas irregulares e manter o diálogo com os moradores e o órgão de preservação?
Temos uma relação sólida e respeitosa com o IPHAN, trabalhando juntos para orientar moradores e comerciantes e preservar nosso patrimônio histórico. E temos como parceira a coordenadora do escritório técnico em Pirenópolis, Elisa, o que é importante nesse processo, e essa sintonia entre município e instituto tem sido fundamental para manter viva a nossa história.
A reconstrução do Cavalhódromo é um projeto emblemático. Qual será o modelo de gestão, a fonte de custeio e o impacto esperado na economia e na agenda cultural da cidade?
O Carvalhódromo é um ponto de encontro das famílias pirenopolinas durante a Festa do Divino Espírito Santo. Representa nossa tradição, nossa sociabilidade e o espírito de comunidade que nos define. Sendo assim, ele tem uma importância muito grande para esta comunidade.
Olhando para o futuro, qual legado o senhor gostaria de deixar para Pirenópolis ao final deste mandato, tanto em infraestrutura quanto em qualidade de vida para os moradores?
Não acredito em legado único. Acredito em um conjunto de realizações que deixam marcas duradouras. Estamos concluindo a revitalização do Rio das Almas com o projeto Beira-Rio; vamos restaurar os largos da Igreja Matriz e da Igreja do Bonfim; e estamos debatendo com a comunidade o fechamento do trânsito de veículos no centro histórico, para preservar e valorizar o espaço. Na educação, investimos fortemente em reformas, ampliações e construções de novas escolas, garantindo conforto e qualidade no ambiente escolar. Na saúde, entregamos novas UBS, reformamos e ampliamos outras, e oferecemos atendimento humanizado, com foco real na necessidade das pessoas.
Sua reeleição em 2024 veio após um processo judicial que terminou favorável ao senhor. Que aprendizados políticos e administrativos surgiram dessa experiência?
Durante as adversidades, eu e nosso grupo político nos mantivemos confiantes, com fé em Deus e com a serenidade de quem sabe que a verdade prevalece. Enfrentamos acusações infundadas, motivadas por quem não aceita o resultado democrático das urnas, e vimos nisso a oportunidade de provar que nosso trabalho é pautado pela honestidade e pelo compromisso com a cidade. Fonte; Jornal de Brasilia
Fotos: Marcello Dantas
Parceiro: