Ícone do site Pirenópolis Online

5º Pirenópolis Doc começa amanhã(30) com filme que homenageia Grande Othelo

Amanhã, terça-feira(30), Piri.Doc em Pirenópolis. logo na abertura, os presentes irão assistir ao longa metragem “Othelo, o Grande”,  às 19h00, no Cine Pireneus.

O filme de abertura do 5º Pirenópolis Doc, retrata Sebastião Bernardes de Sousa Prata por meio do cinema documental, considerada uma tarefa difícil. Tarefa difícil mas essencial. Grande Othelo é, indiscutivelmente, nome basilar da nossa cultura, conforme mostra o cineasta Lucas H. Rossi no filme “Othelo, o Grande”, que abre nesta terça-feira, 30, o Piri Doc, em Pirenópolis. Neto de escravos, o artista driblou a pobreza para passar à história das artes brasileiras pela alta capacidade de improviso, pelo humor sagaz e pelos personagens lendários, dentre os quais Espírito da Luz e Macunaíma.

Brilhou nos longas “Rio Zona Norte” (1957), de Nelson Pereira dos Santos, e “Macunaíma” (1969), clássico de Joaquim Pedro de Andrade, Othelo destacou-se ainda em pelo menos outras três produções cinematográficas: “Moleque” (1943), “Carnaval no Fogo” (1949), “Assalto ao Trem Pagador” (1962). No teatro, integrou a Companhia Negra de Revistas durante a década de 1920 e, como compositor, escrevera sambas populares.

Grande Othelo, herói de nossa gente: Macunaíma entrou para a história do cinema brasileiro. Foto: Divulgação

Lucas afirma que Othelo entrou para a história muito antes de interpretar o anti-herói que nomeia o romance escrito por Mário de Andrade. O artista, diz, começou a filmar nos anos 30, e “Macunaíma” foi lançado pelo menos 37 anos depois, em 1969. “Mas, de certa forma, esse foi um papel marcante. Além de ser um clássico na cinematografia brasileira, é também a união entre a chanchada (ali representada pelo Othelo) e o cinema novo – dentro da linguagem e da pretensão artística”, analisa o diretor.

Na época, havia repressão por toda parte: cinema, música e teatro. Essa conjuntura histórica levou o diretor a uma redefinição a partir da qual o rigor estético-político precisava chegar até as pessoas. Joaquim Pedro declarou, numa entrevista à revista “Visão”, que o longa-metragem era popular, mas nem por isso ia em direção contrária à linha que sempre impôs na sua filmografia. “É um filme em cor, de orçamento relativamente alto. Filme-espetáculo, cuja posição implica que tenha grande público”, salientou o cineasta.

“Macunaíma” retrata a história do herói sem nenhum caráter, do herói de nossa gente. “Othelo defende que ‘Macunaíma’ levantou o cinema brasileiro e diz que ele se sentiu muito feliz em fazer parte do filme”, diz. Em 1975, num depoimento ao Serviço Nacional de Teatro, Otelo afirmou que “Macunaíma” fora sua maior infelicidade. “Depois dele, o pessoal de cinema só me chama para papéis feitos para Grande Otelo”, apontou o artista, que atuou depois em “O Homem do Pau-Brasil” (1982), baseado na obra de Oswald de Andrade.

Othelo trabalhava nas suas interpretações a expressividade corporal, as vozes e os trejeitos. Foto: Divulgação

Nascido em Uberlândia (MG) no ano de 1915, Othelo trabalhava nas suas interpretações a expressividade corporal, as vozes e os trejeitos, como se viu na paródia “Romeu e Julieta”. Desde criança, demonstrava talento para cantar em diferentes idiomas e estilos, o que transformou o destino de um menino cujos avôs tinham sido escravizados. Na carreira, trabalhou com cineastas como Orson Welles, Werner Herzog e Julio Bressane, usando esse espaço para criar a própria narrativa e pondo abaixo os pilares do racismo institucional.

Além de desafiar o preconceito, o artista viveu duas ditaduras, a do Estado Novo, instaurada por Getúlio Vargas em 1937, e a civil-militar, posta em pé pelos fardados 27 anos após a primeira. Lucas revela que, por isso, realizar um filme sobre Othelo é um “movimento ancestral”. De acordo com ele, o documentário enfoca a vida e obra do artista em primeira pessoa, numa tentativa de humanizá-lo, desconstrui-lo e desmistificá-lo, “com humor típico de Grande Othelo, a história deste negro, ator e umbandista”.

Radicado no Rio de Janeiro, Lucas possui currículo pomposo. Já produziu, por exemplo, os filmes “Kabadio”, “Canastra Suja” e “A Morte Habita à Noite”, além dos curtas-metragens premiados “Ao Final da Conversa, Eles se Despedem Com um Abraço”, “Repulsa” e “Auto Falo”. “Othelo, o Grande” nasceu com um sonho de seu pai, que chegara a falar anos atrás com Othelo. Então, o cineasta encontrou apoio nos filhos do ator, que não queriam pessoa branca fazendo um trabalho sobre o progenitor. “Logo que eu surgi, eles toparam na hora”.

Othelo no filme “Rio Zona Norte”, do cineasta Nelson Pereira dos Santos, lançado em 1957. Foto: Divulgação

Questionado sobre o que conseguiu desconstruir com o filme, Lucas conta que “a luta da sobrevivência é boa para todos”. “Mostramos a luta dele para chegar onde chegou. Ele se coloca como um líder da raça e isso é pra mim de um valor único, pois durante muito tempo, muita gente apontava que Othelo não se colocava politicamente, e agora, aí está: um filme com ele se colocando do início ao fim”, pontua o cineasta, que é apaixonado pela vida e obra de Othelo desde criança e, desde então, sempre tinha o sonho do filme na cabeça.

“Quando eu era pequeno, meus pais me levavam sempre a alugar fitas numa locadora lá em Piracicaba (SP), minha cidade natal. E eu amava Chaplin, adorava ficar vendo todos aqueles filmes dele, só que de tanto alugar, um dia fomos lá buscar e já não tinha mais. E meu pai, sábio, prontamente pegou uma fita, apontou pra cara do Othelo e disse: leva esse filme aqui, esse é o nosso Chaplin brasileiro”, lembra. Para ele, Othelo deixa para nós reflexão sobre racismo e nos ajuda a pensar como o ambiente da cultura é branco, elitista e burguês.

“Tem uma herança colonial no comportamento das pessoas, e pra mim, apontar o dedo pra isso é o maior legado de um homem negro que viveu na pele tudo que ele viveu. Mas estamos falando de um gênio, de um cara que foi fundamental na construção da identidade da cultura brasileira, um ator que inventou-se do 0 e de repente estava sendo protagonista de cinema, filmando com Orson Welles, fazendo mais de 100 filmes, driblando o racismo e entrando pela porta da frente dos lugares onde o negro só entrava pelos fundos. É tanta coisa que ele deixa de legado que não saberei mensurar”, termina.

SERVIÇO

Mostra de Abertura do 5º Pirenópolis Doc

Dia: 30 de janeiro

Local: Cine Pireneus

Horário: 19h00

Classificação: livre

Parceiro:

Telefone: (62) 3331-3556.
Endereço: Av. São Paulo – Centro, em frente ao cemitério.
*Obs* A publicidade anexada à matéria, nada tem a ver com o conteúdo. Não se trata de matéria paga, é só uma forma de deixar em evidência os parceiros do site nas redes sociais. Venha ser parceiro do Pirenópolis Online. Seu anúncio vai longe!
Sair da versão mobile