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Ciclista que saiu de Pirenópolis para fazer viagem pelo mundo, está retida em Israel devido à pandemia

A ciclista Larissa Cantarelli, de 27 anos, tinha um sonho: fazer uma grande viagem de bicicleta pelo mundo. Há 15 meses, ela vendeu todos os seus pertences e deixou Pirenópolis, sua cidade natal, onde ela tinha uma pousada, para começar essa grande aventura. Só não contava com a pandemia do novo coronavírus, que obrigou a ciclista a suspender sua empreitada enquanto passava por Israel.

Larissa partiu do Brasil em abril de 2019 apenas com a bicicleta e duas mochilas, além da vontade de conhecer novos locais e pessoas. Pedalou por mais de 10 mil quilômetros em 13 países da Europa e do Oriente Médio, incluindo Portugal, Espanha, França, Itália, Croácia, Macedônia, Bulgária, Turquia, Israel e Egito.

Mas, ao voltar do Egito para retornar à Turquia, em março deste ano, ela acabou tendo que ficar em Israel após o fechamento das fronteiras por conta da disseminação do coronavírus.

“É engraçado que a minha viagem estava toda planejada. Cada dia. Talvez não literalmente, mas os meses que eu iria ficar em cada país. Estava tudo no papel, mas agora eu não consigo nem sequer planejar porque a gente não sabe. Agora o plano é não planejar”, diz Larissa.

Larissa em Jerusalém

A brasileira já acumulou experiências incríveis nos lugares por onde passou. Na Europa, fez amizades inusitadas, aprendeu inglês na marra e trabalhou como voluntária em pousadas. No Egito, ela foi seguida por policiais toda vez que pegava a estrada. Segundo a goiana, a polícia tentava protegê-la de quaisquer problemas em um país onde mulheres não viajam sozinhas, muito menos de bicicleta.

Em Jerusalém e na Turquia, também entendeu que é preciso tomar um certo cuidado com os costumes locais.

A ciclista no Egito

“No Egito, por exemplo, eu não sofri assédio de violência ou um assédio de ‘fiu-fiu’. Sofri um outro assédio”, conta Larissa. “Eu era uma mulher, sozinha, de bicicleta, com cabelo à vista, porque lá geralmente as mulheres usam véus. Então os homens me olhavam, eles perguntavam ‘você é casada, já foi casada ou quer casar comigo’. Eram as três perguntas. É uma cultura totalmente diferente do Brasil. E, de repente, eu estou de short. E aí eu estou em Jerusalém, eu atravesso a rua eu não posso estar de short porque é um bairro ortodoxo. De repente eu estou de short na Bulgária. Mudei de fronteira, estou na Turquia. Não é legal andar de short na Turquia e jamais no Egito, né? Porque fere a cultura deles. Eles não estão acostumados a usar esse tipo de roupa”, relata.

Larissa Cantarelli em Israel

Larissa se apaixonou por bicicletas aos 15 anos, quando ganhou sua primeira bike de presente. Foi amor à primeira vista: ela passou a pedalar para todos os lugares. A certa altura, começou a fazer viagens de dezenas e até centenas de quilômetros com sua bicicleta.

A ciclista adotou iniciativas de mobilidade ligadas ao tema, como a “Bike Anjo”, que ensina pessoas a pedalar, e acabou criando seu próprio projeto, o “GiraSó com elas”, que visa o empoderamento feminino ao registrar o cotidiano de uma mulher que gira o mundo sozinha com sua bicicleta. Para ela, pedalar tem um significado profundo:

Larissa em Pirenópolis

“Significa liberdade, um equilíbrio social, porque pessoas de todas as classes podem ter bicicleta. Independentemente do tipo, você precisa só pedalar. Então a bicicleta está em todos os níveis”, afirma. “A ideia do meu projeto é pedalar e contar a história de mulheres durante o caminho. Mas essas histórias de mulheres são, na verdade, a minha história. Através da minha experiência, eu inspiro essas mulheres.”

Em Jerusalém

Agora, em Israel já há quatro meses, Larissa estuda os próximos passos. Atualmente, ela mora em uma pousada em Jerusalém, onde trabalha como voluntária. Para se sustentar – já que o custo de vida em Israel é alto –, ela vende cartões postais feitos à mão enquanto desenvolve seu projeto de transmitir a outras pessoas suas experiências como cicloviajante.

Larissa em Milão

Ela não esconde a frustração de suspender a viagem e se ver em um país desconhecido, sem amigos mais antigos ou a família por perto. Mas, apesar dos contratempos, não perde o otimismo, afinal, pedalar pelo mundo é um exercício de superação.

“Você tem que ver isso com amadurecimento, com desapego também, emocional, o que não é fácil. Um desapego material e um desapego que é como fé”, acredita a cicloviajante. “É como aquela música: ‘andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá’. É ter fé, principalmente, e saber que você é capaz, você consegue e o mundo é seu.”

Larissa na Europa

Para acompanhar bem de perto essa aventura, segua o Instagram de Larissa Cantarelli

Fonte: /www.rfi.fr

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