Neste próximo mês de setembro é a época do ano em que há maior número de registros de focos de incêndio no estado. A ausência de chuvas, somada a baixa umidade e fortes ventos, criam cenários preocupantes em relação ao surgimento de queimadas, que prejudicam não só a saúde da população, mas também o meio ambiente e a economia de Goiás.
De acordo com o professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e vice-coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ciência do Fogo (NEPEF), Nilson Clementino Ferreira, entre os meses de agosto a outubro ocorre o quadro perfeito para o surgimento e focos de queimadas, que os especialistas chamam de triplo trinta. “A ocorrência do triplo trinta que são temperaturas acima de 30 graus centígrados, umidade relativa do ar abaixo de 30% e velocidade do vento acima de 30 km/h, dura praticamente todo o mês (setembro), então o risco será altíssimo”, explica o professor.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no mês de agosto, até ontem (23), já foram detectados 718 focos ativos de incêndio no estado de Goiás. Cenário preocupante, que pode piorar nos próximos dias, especialmente em setembro. “Sairemos do inverno seco e passaremos para a primavera somente no dia 22 de setembro, daí em diante pode começar a ocorrência de alguma precipitação. Contudo, tipicamente no cerrado, as chuvas só aumentam a quantidade após a segunda metade do mês de outubro. Portanto, temos ainda mais de 50 dias de muita seca e muito risco de grandes incêndios”, ressalta o professor da UFG.
De acordo com o pesquisador do NEPEF, a vegetação seca, comum nessa época do ano, forma matéria combustível que facilita o espalhamento do fogo. Aliado às condições climáticas, um pequeno foco de incêndio pode se alastrar e tomar grandes proporções em questão de minutos. “O que caracteriza um incêndio é justamente a falta de controle do fogo. A vegetação seca é um combustível muito leve, em situação de fogo perde massa e fica mais leve ainda. O próprio fogo provoca a movimentação do ar, gerando ventos locais. Essa movimentação do ar vai então espalhar o material combustível em chamas, que em contato com outros focos cria um cenário de fogo completamente descontrolado”, afirma Nilson.
A dinâmica do fogo em épocas de seca chama atenção para um costume típico da população goiana, atear fogo em folhas secas e em lotes baldios. “É muito fácil perder o controle do fogo e acabar provocando uma grande tragédia. Ao atear fogo, em material seco, a queima ocorre muito rapidamente e a emissão de calor também é muito alta e pode começar também uma grande movimentação de ar. Assim, a pessoa que ateou o fogo não consegue mais fazer o controle do fogo, pois não consegue chegar perto do mesmo devido as altas temperaturas”, esclarece o vice-coordenador do NEPEF.
Além do prejuízo à saúde, causados pela fumaça tóxica, o fogo também causa danos à rede elétrica, provocando curtos-circuitos, levando ao desarme do sistema elétrico ou até mesmo a danos estruturais, impactando no abastecimento de energia. A falta de energia prejudica a segurança pública, o comércio e, consequentemente, a economia. Entre janeiro e agosto, a Enel registrou cerca de 70 ocorrências causadas por queimadas próximas à rede, que deixaram cerca de 42 mil clientes sem energia em todo o Estado, entre eles comércios e indústrias.
Diante da situação de risco, a Enel realiza ações, com a poda de árvores e remoção da vegetação perto de postes e sob fios, monitora em tempo real os focos de incêndio próximos e faz a conscientização da população. “Durante esse período de agosto a outubro, para minimizar os impactos, nós recomendamos que as pessoas não coloquem fogo, principalmente na área urbana, nos lotes vazios para promover sua limpeza, pois, mesmo que as chamas não alcancem os cabos, o próprio calor proveniente daquele incêndio pode causar danos irreversíveis e o desligamento”, esclarece o responsável de operação e manutenção da Enel, Ícaro Barros. Fonte: Mais Goias.
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