Entenda o que é a bioeconomia, setor que movimenta € 2 trilhões por ano

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País com uma grande biodiversidade, o Brasil possui mais de 116.000 espécies de animais e mais de 46.000 espécies de vegetais. Toda essa variedade é um prato cheio para o desenvolvimento da bioeconomia no país. Com a produção baseada no uso de recursos biológicos, o setor gera € 2 trilhões por ano no mundo, além de 22 milhões de empregos, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A bioeconomia é uma atividade econômica ligada diretamente à produção de alimentos, vacinas, biocombustíveis e cosméticos. O segmento também atua no cruzamento e aperfeiçoamento de plantas e animais. Desenvolve ainda enzimas utilizadas na indústria.
Entre os itens produzidos pela bioeconomia está o etanol, desenvolvido por meio da fermentação de açúcares e cereais encontrados no milho, beterraba e na cana-de-açúcar.
A bioeconomia surgiu na Europa durante a década de 1970 como uma alternativa aos recursos fósseis, como petróleo e carvão, uma saída para produção de bens e produtos com a utilização de mecanismos renováveis.

A OCDE define a bioeconomia como “um mundo onde a biotecnologia contribui com parcela importante da produção econômica. Sua emergência está relacionada a princípios relativos ao desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ambiental, envolvendo os elementos: biotecnologia, conhecimento, biomassa renovável e integração entre aplicações”.

Apesar da grande variedade de recursos renováveis no Brasil, o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Madeira Nogueira defende que o país precisa desenvolver políticas públicas que possam viabilizar o avanço da bioeconomia.

“Alternativas para investir em pesca na Amazônia, investir em políticas públicas para cooperativas de açaí e ampliar o trabalho da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na Amazônia”, defende o professor.

No Brasil, a bioeconomia é vista, principalmente na produção extrativista de produtos como cacau, açaí, castanha e borracha na região Norte. A diretora-executiva adjunta do Imaflora e gestora da Rede Origens, Patrícia Gomes, destaca que esse tipo de manufatura precisa ser modernizada e os governos federais e estaduais devem apresentar medidas econômicas mais rentáveis.

“Então, a gente vê na Amazônia um dos exemplos de bioeconomia que é aquele modelo tradicional, um modelo muito de exploração. Você chega, retira o recurso, você não compartilha a riqueza, você sai dali e deixa a pobreza, o desmatamento. A gente tem que compartilhar valor localmente, fazer repartição de benefícios e pensar um negócio que seja ganha ganha. Que seja um bom negócio para as empresas e que seja também um vetor de desenvolvimento sustentável na região”, explica Patrícia Gomes.

A bioeconomia pode ser vista como uma oportunidade para enfrentar adversidades como o aumento da população, maior demanda por alimentos, redução da pobreza, além de contribuir para a mitigação climática.

O professor explica que o governo federal deve, sim, preservar o meio ambiente, mas também trabalhar os recursos das florestas como uma alternativa de trabalho e de economia sustentável.

“Nós temos que olhar para o que a natureza nos oferece e o que vamos exalar, conservando e gerando bens que a sociedade deseja. Se não deixar o ser humano que está na Amazônia crescer na produção não dá para ter desmatamento zero”, declara o professor.

Na Amazônia, a bioeconomia aparece como uma forma de transição para uma economia sustentável e de baixo carbomo. Com a utilização de recursos naturais já existentes e sem a necessidade de desmatamento ou exploração de garimpos na região.

O mestre em Ecologia e coordenador do Programa de Negócios Florestais da SOS Amazônia, Adeilson Lopes, salienta que o Brasil precisa começar a investir em medidas não predatórias e que degradam o meio ambiente como a produção em larga escala de soja e bovinos. Para ele, é importante que o país financie projetos que garantam uma sobrevivência digna às futuras gerações.

“Se avançarmos para um modelo que além de gerar produtos de maior valor agregado, medicamentos, cosméticos, alimentos saudáveis, ainda gere proteção do nosso clima e das nossas populações tradicionais, que é o que mais necessitamos neste momento”, destaca o pesquisador do SOS Amazônia.

“Se o modelo predatório continuar o que as gerações que nos sucederem irão encontrar será apenas deserto, terra arrasada e maiores dificuldades de sobrevivência digna”, reforça Lopes.

Entre uma das medidas que os governos podem adotar para garantir o desenvolvimento da bioeconomia no país é o investimento nas comunidades tradicionais para construção de fábricas para a produção de produtos de origem renovável.

“Quer dizer, a gente tem que pensar maquinários, equipamentos, que sejam adequados àquela realidade, que a gente consiga agregar valor, que a gente consiga processar. Investir nas cooperativas que estão trabalhando com cacau, com com o cumaru, com uma série de ingredientes. A gente precisa estimular a ter uma política de incentivo ao setor privado também, o setor privado é uma peça chave”, destaca Patrícia Gomes.

Iniciativa

Com incentivo do Fundo Amazônia, o Imaflora desenvolveu o projeto Origem Brasil que tem como objetivo promover negócios de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas que trabalham com a bioeconomia. Com ele o consumidor consegue descobrir toda a cadeia produtiva de seu produto.

Na bioeconomia, é importante que o desenvolvimento dos produtos, tanto de alimentos como medicamentos, tenham uma origem sustentável e que respeitem a floresta. Com isso, projetos como o Origens são capazes de expandir a economia sustentável e de baixo carbono. Fonte: Metrópoles

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