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Filme goiano “Fogaréu”, premiado no Festival de Berlim, fala sobre “os bobos” da Cidade de Goiás com um toque sobrenatural

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Filmado em Goiás Velho, o longa “Fogaréu” gira em torno de uma mulher que, com a morte da mãe, volta à terra natal e se depara com um cenário repleto de pequenas estranhezas, que com tempo vão se tornando ainda maiores. Para tratar de questões reais e atuais, como trabalho análogo à escravidão e destruição de terras indígenas, a diretora de 39 anos recorre inclusive a toques sobrenaturais. O filme, dirigido pela goiana Flávia Neves, ficou em terceiro lugar na mostra Panorama da 72ª edição do Festival de Berlim em 2022.

“Fogaréu” é um suspense que apresenta um olhar incisivo à história do Brasil. Ao observar as práticas corriqueiras na cidade de Goiás, antiga capital do Estado, a diretora Flávia Neves descreve a identidade do país como uma mistura de massacre indígena, coronelismo, descaso com o meio ambiente, estupros, patriarcalismo hipócrita, tráfico de drogas, homofobia, xenofobia, racismo, misoginia, etarismo, capacitismo, escravidão, corrupção política, internação compulsória de “loucos”, e certamente mais algumas mazelas esquecidas nesta lista.

Natural de Goiânia, Flávia Neves deixou a cidade para estudar Cinema na UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói. Na faculdade, descobriu a história de que eram muito comuns, no interior de Goiás, casos de adoção de crianças com problemas mentais chamadas de “bobas” por famílias abastadas, e que essas pessoas, sob o argumento de “serem quase da família”, se viam num cenário análogo à escravidão.

Interessada no tema, resolveu voltar para seu estado e investigar. Além do contato com pessoas na região, ela teve acesso a uma tese de doutorado que tratava destas relações de forma abrangente, com depoimentos, e chegando até os dias atuais.

— Percebi que realmente tinha uma história muito forte, e que precisava ser contada — diz Neves, que ao investigar um tema para seu primeiro longa-metragem de ficção, acabou descobrindo que sua história real encontrava paralelos com a de sua obra. — Comecei a pensar em minha mãe, que também foi adotada com esse discurso de fazer parte da família, mas que sempre falou que tinha que trabalhar e que não teve a oportunidade de estudar. Sempre encarei da forma como me vendiam, como se tivessem salvado a vida da minha mãe. Sempre tive muita gratidão até começar a fazer o filme, quando entendi que a história dos “bobos” era a mesma da minha mãe.

Além de tratar dessas relações familiares e de trabalho, “Fogaréu” apresenta um cenário em que os interesses políticos e o agronegócio conduzem boa parte das dinâmicas da cidade. A violência que está dentro de casa também encontra vazão na terra, com o desmatamento das florestas e as agressões à população indígena.

Para tratar de temas pesados como machismo e racismo, Neves utiliza-se de características do cinema de gênero, inserindo elementos sobrenaturais em sua trama. A diretora e a atriz, no entanto, relatam que tais elementos vão ao encontro das tradições da região.

— Passei dois meses em Goiás Velho para o filme e a sensação que tinha é que eu estava em um livro do Gabriel García Márquez. Era tudo muito diferente, quase um realismo fantástico. As histórias que chegavam até mim, as trocas que tive, tudo reforçava uma relação com o fantástico — revela Colen.

Quem não assistiu ainda, assista. Fogaréu (2022) tem duração de 1h40 min e elenco formado por Barbara Colen, Eucir de Souza, Nena Inoue.

SINOPSE

Fernanda retorna à cidade de Goiás, antiga capital do Estado, de onde partiu quando era criança. Ela explica à família conservadora, muito ativa na política local, que seu objetivo é enterrar as cinzas da mãe adotiva, cumprindo um desejo da falecida. Na verdade, ela pretende conhecer a identidade de sua mãe biológica. Mas quando a investigação sobre o passado de Goiás ameaça as eleições locais, Fernanda se encontra em perigo.

 

Veja abaixo fotos do elenco, cenas do filme e da diretora:

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Diretora Flávia Neves

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Barbara Colen

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